Fonte: http://www.oabaetedeantoniolucio.blogspot.com.br/
Testamento de Judas
por Lídio Lucas Pereira
Eu sou o Judas Iscariotes,
Dos 12 discípulos de Jesus,
A quem com um beijo traidor
Eu o fiz morrer na cruz.
Estou muito arrependido,
Meu Deus, meu Deus, o que eu fiz?
Na hora de minha morte,
Perdoa, perdoa este infeliz!
Mas antes de deixar o mundo,
o que vai acontecer neste momento,
Vou distribuir tudo o que eu tenho,
Vou fazer meu testamento:
A quantia de trinta dinheiros
que fez minha desgraça eterna
Eu deixo pro presidente Sarnei
Pagar nossa dívida externa.
Para o Dr. Carlos Geraldo,
Dos grandes políticos do Brasil,
Pra ele deixo a esperança
De ser prefeito no ano 2000.
Minha fama de contar potocas
E de ser dos mais mentirosos,
Estas coisas estou deixando
Para o Flávio dos Melosos.
Os meus cheques e promissórias,
Meu resto de dinheiro apurado,
Tudo isso vou deixar
Pro amigo Juvenal Machado.
Pro Omar do Agnaldo Andrade,
Homem forte e sem lombriga,
Para ele deixo um presente;
A minha pequena barriga.
Pro Marcelão e para o Lídio,
Para o Gringo e a mulher sua
Deixo cem caminhões de asfalto
Pra asfaltar a sua rua.
O meu terno impecável
E minha gravata de primeira
Vou deixar, muito feliz
Pro Dr. Taquinho Lucas Pereira.
Para o Ivan da Coletoria,
Caçador muito afamado,
Deixo um casal de paca
E também um casal de veado.
Para o nosso juiz de direito,
Simpatia que não acaba,
Fica a coisa que ele mais ama
Que é a comarca de Uberaba.
Pro marido da promotora,
Gordinho como um abacate
Pra ele que é garimpeiro,
Deixo uma pedra de 100 quilates.
Pro Zé Lage, Potreiro e Rominho,
Homens muito bons de cuca
Para cobrir-lhes as carecas.
Eu lhes deixo um par de perucas.
Pro Zé do Tote, Tá e Ildeu,
Meus amigos desde criança,
Vou deixar a cada um deles
30 cadernetas de poupança.
Quando eu era muito jovem,
Minha beleza resplandecia.
E toda esta minha beleza
É pro Onofre da Sapataria.
A fazenda do Doca Andrade,
a melhor de nossa região
Vou deixar pra Prefeitura
Fazer novo campo de aviação.
Pro Sizínio e o Elói Ramos,
Que são grandes corações
Deixo todos os votos que eu tenho
Para as próximas eleições.
Pro Clóvis da Caixa Econômica
A quem nunca vi na Igreja,
Deixo de todo coração
10.000 engradados de cerveja.
A meu amigo Ivanzinho,
Que de Abaeté muito gosta,
Ofereço um livro que eu tenho:
“Como ganhar uma aposta”.
Pro Alemão do Zé Evaristo,
Homem de responsabilidade,
Deixo o melhor boteco que tenho
Bem no centro da cidade.
Para o Jair do Ferro Velho,
Que gosta muito de Pompéu
Deixo a minha barba branca,
Barba de Papai Noel.
Para o amigo Nego do Jader,
Que gosta muito de novidade,
Vou deixar com carinho
As casas velhas de nossa cidade.
Aos buracos da rua Alda Viana
Que aumentam de mês em mês
Dou toda esta buracada
pro Aloysio e pro Zé Reis.
Para o Orlando do Doca,
Homem feliz e muito humano,
Vou deixar-lhe de presente
O meu nariz de tucano.
Todos os cavalos da terra
E as éguas do mundo inteiro
Vou deixar pro Hélio Faria.
E também pro Jairo “parceiro”.
Pro prefeito Dr. Fernando,
Uma inteligência de primeira
Deixo uma rodovia asfaltada
de Abaeté até Paineiras.
A prefeitura de Martinho Campos
Deixo para um grande artista
Vocês sabem quem ele é?
É o nosso Umberto dentista.
Toda a minha prosa boa,
Seja com rico, seja com pobre
Deixo pro Tunico do Papa
Gente de família muito nobre.
Para o Cândido do Zé do Aprígio
Gente de conduta ilibada,
Deixo toda a minha saúde
Pra eles fazerem sua caminhada.
Fui grande comerciante,
Nos bancos um grande saldo.
E todo o estoque que tenho
Fica pro Élio Romualdo.
Pra Adelina do cartório
Que foi do Sô Aristeu
Deixo como noivo o Antônio
Que trabalha com o prof. Ildeu.
Para o povo desta terra,
Terra plana e sem declive
Deixo o amor, a tranquilidade
E a paz que eu nunca tive.
Terminando o testamento,
Eu me dirijo ao povo meu:
Abaeteense, não seja covarde
E nem traidor como eu...
Fonte:http://nossojornalabaete.com.br/nossojornal/ -edição junho/1998
Quando criança me diverti muito malhando e queimando o Judas... e mesmo sem entender direito ficava ansiosa pelo testamento escrito e proferido pelo nosso querido professor Lídio.
Hoje ninguém mais fala em malhar e queimar o Judas e ainda bem que o Antônio Lúcio fez o registro visual desse passado que tanta saudade deixou.
Ou será que estamos absolvendo todos os "Judas" da nossa vida, praticando o perdão e nos preparando para a verdadeira páscoa? Não a páscoa dos chocolates, mas a páscoa do amor ao próximo e celebração da vida, da verdadeira fraternidade ...
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