CARLOS OLAVO DA CUNHA PEREIRA nasceu em Abaeté- Minas Gerais no dia 16 de março de 1923 e faleceu em Belo Horizonte no dia 06 de maio de 2016.
Salve o grande Carlos Olavo!
Autor de dois livros “Na saga dos anos 60” e “Nas terras do Rio sem Dono”, em outubro de 2015, Carlos Olavo escreveu para o Nosso Jornal o artigo “Uma história de realizações e amor por Abaeté”, onde relatou as importantes contribuições prestadas por sua família para o progresso da Cidade-Menina.
Em fevereiro de 2014, quando morava em Abaeté, foi entrevistado pelo Nosso Jornal e falou sobre a história de sua vida, marcada pela luta em prol dos direitos humanos e da democracia e pelo combate à ditadura em três países da América Latina.
Em homenagem a este grande heroi de Abaeté e do Brasil, publicamos esta entrevista abaixo:
O livro “Na saga dos anos 60”, recentemente lançado pelo senhor, é apresentado como o testemunho de uma vida dedicada ao combate à ditadura em três países. Fale sobre este trabalho.
“Na saga dos anos 60” é o livro sobre as minhas andanças entre o ato institucional número 1, a minha prisão e a fuga para o exílio. Fui condenado a oito anos por subversão. Bendita subversão! (risos). Nesse livro, eu aproveito para contar como foi o golpe na Bolívia, o movimento Tupamaros no Uruguai, as minhas relações com o Brizola e outras lideranças políticas. É um livro das andanças de um jornalista engajado nas lutas sociais e políticas do seu tempo. A história tem início com a deposição de João Goulart pelas Forças Armadas e termina com a Anistia, em 1979.
O senhor também é autor do livro “Nas terras do Rio sem dono”, onde relata a disputa pela terra no Vale do Rio Doce. Conte um pouco de sua militância em Valadares.
Cheguei a Governador Valadares no dia do suicídio de Getúlio Vargas, em 24 de agosto de 1954. A cidade estava completamente parada, de luto pela morte do presidente. Uma coisa impressionante! Minha primeira ação foi ajudar a organizar um comício para um companheiro ler a carta testamento de Getúlio em praça pública.
Eu tinha 30 anos e fui designado para criar uma sucursal do Jornal do Povo ali. Naquela época, a terra passava por uma valorização rápida, devido ao cruzamento da rodovia Rio-Bahia e da ferrovia Vitória/Minas bem dentro de Valadares, e o Vale do Rio Doce se notabilizava pelos despejos cruéis dos posseiros feitos pelos grileiros.
Eu assisti a dramas incríveis, espetáculos de doer. Os posseiros despejados eram jogados do caminhão na beira da Rio-Bahia, com mulher, menino, colchão, mesa, cadeira, penico, porco, galinha, num poeirão danado…
Eu fotografava aquilo e fazia reportagens denunciando. Essas reportagens vendiam tantos jornais, que a sucursal em Governador Valadares passou a vender mais que a sede em Belo Horizonte. Mas isso mexeu com muita gente, e o Jornal acabou fechado por dificuldades financeiras. Fiquei, então, “pendurado na brocha”.
Naquelas andanças e em contato com os jornalistas locais, resolvemos criar um jornal satírico. Era “O Saci”, que começou a circular por volta de 1958, levantando os problemas na cidade, e em 1960 passou a se chamar “O Combate”. Era conhecido como um “jornal atrevido”, que não conhecia assuntos proibidos e ganhou a cidade de tal sorte que hoje faz parte da história de Valadares.
Tanto assim que me prestaram uma homenagem. Fui convidado para dar duas aulas magnas no curso de Jornalismo da Univale, me levaram ao edifício novo e descerraram uma placa na porta: “Laboratório de Comunicação Social Jornalista Carlos Olavo” (emociona-se). O Combate era o jornal de maior circulação da cidade, vendia feito pólvora. Era combativo mesmo.
Durou até a revolução?
Durou até a chamada revolução, que de revolução não tinha nada. Foi um golpe militar reacionário, que logo de entrada mostrou bem a sua natureza, se atirando contra a imprensa e o movimento social. Atacaram o Sindicato dos Trabalhadores Rurais, despedaçaram o jornal. Foi um golpe contra-revolucionário, a favor das elites, para parar as reformas de base que o João Goulart pregava. No último dia de governo, Jango tinha 73% de aceitação popular. Foi um golpe contra o governo do povo.
O senhor chegou a ser preso quando invadiram o jornal?
Eu já tinha saído da cidade, porque, no dia 8 de março de 64, recebi um telefonema do José Aparecido, que era secretário de governo do Magalhães Pinto, dizendo que o governador queria falar comigo em Belo Horizonte.
Em uma conversa a sós, Magalhães Pinto alertou que o golpe estava sendo armado, ia vencer e eu seria uma das primeiras vítimas, porque, em Valadares, ficaria na boca da onça. Disse que queria prestar uma homenagem à minha família, que era toda da UDN (eu era a ovelha negra, o comunista) e me pediu para procurar o comandante do Batalhão, Coronel Mário Simões, que me entregaria um radiograma dele, pedindo pra me dar todas as garantias até Belo Horizonte. Assim aconteceu.
E, realmente, invadiram a minha casa e disseram pra minha mulher: “com a senhora e os filhos não vamos fazer nada, mas queremos fazer picadinho de seu marido”. Estão, até hoje estão querendo fazer esse picadinho (dá uma boa risada). Estou com 90 anos, gozando de saúde e muitos deles já foram para o cemitério.
Com o salvo conduto do governador, consegui chegar a Belo Horizonte, fui pra casa do meu irmão Simão da Cunha, deputado na época. Dali fui para Brasília e depois para Barra do Corda, no Maranhão. Lá, cheguei a ser preso, mas consegui fugir da cadeia e cavalguei até o Piauí, 48 horas a cavalo, sem dormir, sem tomar banho nem nada. Imagine o estado que cheguei a Teresina… O livro conta toda essa história.
No dia da cassação do então senador Juscelino Kubitschek (08 de junho de 64), embarquei para Brasília, de lá fui para o Rio, entrei na Embaixada e parti para o exílio na Bolívia. Cheguei lá na véspera da Semana da Independência e participei de uma passeata com uns 80 a 100 exilados brasileiros. Saímos com a faixa “Exiliados brasileños saludan sus hermanos bolivianos, hermanos de lucha, hermanos de sangre”. (risos) O Repórter Esso, Heron Domingues, divulgou: “o agitador Carlos Olavo está na Bolívia fazendo agitação” e mostrou a fotografia, eu na frente na passeata, junto com Neiva Moreira.
Quando veio o golpe, eu entrei no movimento clandestino de lá, ajudei a fazer um jornal chamado “Abril”. Mas a situação ficou insustentável, e acabei cruzando a fronteira de volta ao Brasil. Cheguei aqui durante a Guerrilha do Araguaia, não quis participar. Voltei pra Abaeté, fui criar porcos e vacas leiteiras numa chácara perto da cidade. Estava até ganhando um dinheirinho, mas recebi um aviso de que havia sido condenado a oito anos de prisão e que viriam me capturar. Saí de Abaeté às 4 da madrugada, três horas depois, a polícia chegou me procurando… Estão atrás de mim até hoje…
De Abaeté o senhor partiu para o Uruguai?
Fiquei uns dois meses com uma família de Abaeté no Mato Grosso, e dali fui para o Uruguai, no dia 1º de maio de 1969. Minha família chegou em outubro, a “penca” de seis meninos. Tenho 12 netos e 5 bisnetos, a família está grande. No livro, presto uma homenagem à Zuca, minha companheira há 63 anos. Graças a ela, escapei de ser torturado e talvez até morto.
Fui preso no Uruguai pela Operação Condor, uma aliança político-militar entre os vários regimes militares da América do Sul, criada com o objetivo de coordenar a repressão a opositores dessas ditaduras, eliminar líderes de esquerda instalados nos países do Cone Sul e para reagir à OLAS, Organização Latino-Americana de Solidariedade, criada por Fidel Castro.
Na época, como eu tinha sido proibido de exercer o jornalismo, trabalhava como guia turístico em uma kombi enviada pela minha família. Uma tarde, ao sair do parque da prefeitura naval, fui sequestrado, preso, e sumiram comigo lá dentro. Como não cheguei em casa na hora marcada e meu filho Jaime viu minha kombi na porta da prefeitura, minha mulher foi até a Embaixada Americana e denunciou o meu sequestro. Era o governo do Jimmy Carter, que pregava o respeito aos direitos humanos e não apoiava as ditaduras da América Latina.
Na manhã seguinte, já tinham tirado a minha roupa e feito o exame médico pra começar a sessão de tortura… quando bateram na porta e entrou o capitão da Marinha Americana, adido naval, mandando me soltar. Escapei pelo gongo (risos).
E continuei no Uruguai até a anistia. Em 79, voltei para Belo Horizonte. E agora estou em Abaeté. Em março, completo 91 anos, ja é hora de aquietar um pouco, quero completar meus 100 anos aqui.
Como o senhor está vendo Abaeté, depois de tanto tempo?
É muito bom estar de volta. Nasci aqui, em março de 1923, vim de uma família grande, 10 irmãos, agora sou o único sobrevivente. Foi aqui que aprendi a gostar de política, desde pequeno vivia num esquema político. Meu pai era deputado federal e eu fui criado mais com meu avô, o Senador Sousa Vianna. Minha avó disse pra minha mãe: “Alda, você tem 10 filhos, dá o Carlos Olavo pra mim.” E eu fui pra fazenda. À tarde, tinha sempre uma conversa politica, com o meu pai e o doutor Vianna, tomando um cafezinho.
Política sempre fez parte da minha família. Meu irmão, Simão da Cunha, foi deputado federal. Aloysio e Edgardo foram prefeitos de Abaeté. Hoje, moro no bairro Simão da Cunha, na Rua Dr. Edgardo. Meu pai, Edgardo da Cunha Pereira, é o titular dessa rua, do Fórum e do Ginásio. Ele fundou o Estadual, e o Zé Cândido, meu irmão, foi o primeiro diretor.
É bom estar de volta. Vejo vocês nessa luta do jornal, conheço bem o que é fazer um jornal numa cidade. Claro que o jornal de vocês é outra natureza, mas é uma bela iniciativa. O que eu puder fazer para ajudar aqui, eu farei, estou à disposição.
Fonte: http://www.nossojornalabaete.com.br/2016/05/06/salve-o-grande-carlos-olavo/
Salve o grande Carlos Olavo!
Aos 93 anos de idade, faleceu hoje, dia 06 de maio, o jornalista abaeteense Carlos Olavo da Cunha Pereira. Nascido em 16 de março de 1923, era um dos 10 filhos de Dr. Edgardo da Cunha Pereira e de D. Alda Viana. Nos últimos anos, morava em Cabo Frio (RJ) com a esposa Zuca, com quem teve seis filhos, 15 netos e seis bisnetos.
Autor de dois livros “Na saga dos anos 60” e “Nas terras do Rio sem Dono”, em outubro de 2015, Carlos Olavo escreveu para o Nosso Jornal o artigo “Uma história de realizações e amor por Abaeté”, onde relatou as importantes contribuições prestadas por sua família para o progresso da Cidade-Menina.
Em fevereiro de 2014, quando morava em Abaeté, foi entrevistado pelo Nosso Jornal e falou sobre a história de sua vida, marcada pela luta em prol dos direitos humanos e da democracia e pelo combate à ditadura em três países da América Latina.
Em homenagem a este grande heroi de Abaeté e do Brasil, publicamos esta entrevista abaixo:
O livro “Na saga dos anos 60”, recentemente lançado pelo senhor, é apresentado como o testemunho de uma vida dedicada ao combate à ditadura em três países. Fale sobre este trabalho.
“Na saga dos anos 60” é o livro sobre as minhas andanças entre o ato institucional número 1, a minha prisão e a fuga para o exílio. Fui condenado a oito anos por subversão. Bendita subversão! (risos). Nesse livro, eu aproveito para contar como foi o golpe na Bolívia, o movimento Tupamaros no Uruguai, as minhas relações com o Brizola e outras lideranças políticas. É um livro das andanças de um jornalista engajado nas lutas sociais e políticas do seu tempo. A história tem início com a deposição de João Goulart pelas Forças Armadas e termina com a Anistia, em 1979.
O senhor também é autor do livro “Nas terras do Rio sem dono”, onde relata a disputa pela terra no Vale do Rio Doce. Conte um pouco de sua militância em Valadares.
Cheguei a Governador Valadares no dia do suicídio de Getúlio Vargas, em 24 de agosto de 1954. A cidade estava completamente parada, de luto pela morte do presidente. Uma coisa impressionante! Minha primeira ação foi ajudar a organizar um comício para um companheiro ler a carta testamento de Getúlio em praça pública.
Eu tinha 30 anos e fui designado para criar uma sucursal do Jornal do Povo ali. Naquela época, a terra passava por uma valorização rápida, devido ao cruzamento da rodovia Rio-Bahia e da ferrovia Vitória/Minas bem dentro de Valadares, e o Vale do Rio Doce se notabilizava pelos despejos cruéis dos posseiros feitos pelos grileiros.
Eu assisti a dramas incríveis, espetáculos de doer. Os posseiros despejados eram jogados do caminhão na beira da Rio-Bahia, com mulher, menino, colchão, mesa, cadeira, penico, porco, galinha, num poeirão danado…
Eu fotografava aquilo e fazia reportagens denunciando. Essas reportagens vendiam tantos jornais, que a sucursal em Governador Valadares passou a vender mais que a sede em Belo Horizonte. Mas isso mexeu com muita gente, e o Jornal acabou fechado por dificuldades financeiras. Fiquei, então, “pendurado na brocha”.
Naquelas andanças e em contato com os jornalistas locais, resolvemos criar um jornal satírico. Era “O Saci”, que começou a circular por volta de 1958, levantando os problemas na cidade, e em 1960 passou a se chamar “O Combate”. Era conhecido como um “jornal atrevido”, que não conhecia assuntos proibidos e ganhou a cidade de tal sorte que hoje faz parte da história de Valadares.
Tanto assim que me prestaram uma homenagem. Fui convidado para dar duas aulas magnas no curso de Jornalismo da Univale, me levaram ao edifício novo e descerraram uma placa na porta: “Laboratório de Comunicação Social Jornalista Carlos Olavo” (emociona-se). O Combate era o jornal de maior circulação da cidade, vendia feito pólvora. Era combativo mesmo.
Durou até a revolução?
Durou até a chamada revolução, que de revolução não tinha nada. Foi um golpe militar reacionário, que logo de entrada mostrou bem a sua natureza, se atirando contra a imprensa e o movimento social. Atacaram o Sindicato dos Trabalhadores Rurais, despedaçaram o jornal. Foi um golpe contra-revolucionário, a favor das elites, para parar as reformas de base que o João Goulart pregava. No último dia de governo, Jango tinha 73% de aceitação popular. Foi um golpe contra o governo do povo.
O senhor chegou a ser preso quando invadiram o jornal?
Eu já tinha saído da cidade, porque, no dia 8 de março de 64, recebi um telefonema do José Aparecido, que era secretário de governo do Magalhães Pinto, dizendo que o governador queria falar comigo em Belo Horizonte.
Em uma conversa a sós, Magalhães Pinto alertou que o golpe estava sendo armado, ia vencer e eu seria uma das primeiras vítimas, porque, em Valadares, ficaria na boca da onça. Disse que queria prestar uma homenagem à minha família, que era toda da UDN (eu era a ovelha negra, o comunista) e me pediu para procurar o comandante do Batalhão, Coronel Mário Simões, que me entregaria um radiograma dele, pedindo pra me dar todas as garantias até Belo Horizonte. Assim aconteceu.
E, realmente, invadiram a minha casa e disseram pra minha mulher: “com a senhora e os filhos não vamos fazer nada, mas queremos fazer picadinho de seu marido”. Estão, até hoje estão querendo fazer esse picadinho (dá uma boa risada). Estou com 90 anos, gozando de saúde e muitos deles já foram para o cemitério.
Com o salvo conduto do governador, consegui chegar a Belo Horizonte, fui pra casa do meu irmão Simão da Cunha, deputado na época. Dali fui para Brasília e depois para Barra do Corda, no Maranhão. Lá, cheguei a ser preso, mas consegui fugir da cadeia e cavalguei até o Piauí, 48 horas a cavalo, sem dormir, sem tomar banho nem nada. Imagine o estado que cheguei a Teresina… O livro conta toda essa história.
No dia da cassação do então senador Juscelino Kubitschek (08 de junho de 64), embarquei para Brasília, de lá fui para o Rio, entrei na Embaixada e parti para o exílio na Bolívia. Cheguei lá na véspera da Semana da Independência e participei de uma passeata com uns 80 a 100 exilados brasileiros. Saímos com a faixa “Exiliados brasileños saludan sus hermanos bolivianos, hermanos de lucha, hermanos de sangre”. (risos) O Repórter Esso, Heron Domingues, divulgou: “o agitador Carlos Olavo está na Bolívia fazendo agitação” e mostrou a fotografia, eu na frente na passeata, junto com Neiva Moreira.
Quando veio o golpe, eu entrei no movimento clandestino de lá, ajudei a fazer um jornal chamado “Abril”. Mas a situação ficou insustentável, e acabei cruzando a fronteira de volta ao Brasil. Cheguei aqui durante a Guerrilha do Araguaia, não quis participar. Voltei pra Abaeté, fui criar porcos e vacas leiteiras numa chácara perto da cidade. Estava até ganhando um dinheirinho, mas recebi um aviso de que havia sido condenado a oito anos de prisão e que viriam me capturar. Saí de Abaeté às 4 da madrugada, três horas depois, a polícia chegou me procurando… Estão atrás de mim até hoje…
De Abaeté o senhor partiu para o Uruguai?
Fiquei uns dois meses com uma família de Abaeté no Mato Grosso, e dali fui para o Uruguai, no dia 1º de maio de 1969. Minha família chegou em outubro, a “penca” de seis meninos. Tenho 12 netos e 5 bisnetos, a família está grande. No livro, presto uma homenagem à Zuca, minha companheira há 63 anos. Graças a ela, escapei de ser torturado e talvez até morto.
Fui preso no Uruguai pela Operação Condor, uma aliança político-militar entre os vários regimes militares da América do Sul, criada com o objetivo de coordenar a repressão a opositores dessas ditaduras, eliminar líderes de esquerda instalados nos países do Cone Sul e para reagir à OLAS, Organização Latino-Americana de Solidariedade, criada por Fidel Castro.
Na época, como eu tinha sido proibido de exercer o jornalismo, trabalhava como guia turístico em uma kombi enviada pela minha família. Uma tarde, ao sair do parque da prefeitura naval, fui sequestrado, preso, e sumiram comigo lá dentro. Como não cheguei em casa na hora marcada e meu filho Jaime viu minha kombi na porta da prefeitura, minha mulher foi até a Embaixada Americana e denunciou o meu sequestro. Era o governo do Jimmy Carter, que pregava o respeito aos direitos humanos e não apoiava as ditaduras da América Latina.
Na manhã seguinte, já tinham tirado a minha roupa e feito o exame médico pra começar a sessão de tortura… quando bateram na porta e entrou o capitão da Marinha Americana, adido naval, mandando me soltar. Escapei pelo gongo (risos).
E continuei no Uruguai até a anistia. Em 79, voltei para Belo Horizonte. E agora estou em Abaeté. Em março, completo 91 anos, ja é hora de aquietar um pouco, quero completar meus 100 anos aqui.
Como o senhor está vendo Abaeté, depois de tanto tempo?
É muito bom estar de volta. Nasci aqui, em março de 1923, vim de uma família grande, 10 irmãos, agora sou o único sobrevivente. Foi aqui que aprendi a gostar de política, desde pequeno vivia num esquema político. Meu pai era deputado federal e eu fui criado mais com meu avô, o Senador Sousa Vianna. Minha avó disse pra minha mãe: “Alda, você tem 10 filhos, dá o Carlos Olavo pra mim.” E eu fui pra fazenda. À tarde, tinha sempre uma conversa politica, com o meu pai e o doutor Vianna, tomando um cafezinho.
Política sempre fez parte da minha família. Meu irmão, Simão da Cunha, foi deputado federal. Aloysio e Edgardo foram prefeitos de Abaeté. Hoje, moro no bairro Simão da Cunha, na Rua Dr. Edgardo. Meu pai, Edgardo da Cunha Pereira, é o titular dessa rua, do Fórum e do Ginásio. Ele fundou o Estadual, e o Zé Cândido, meu irmão, foi o primeiro diretor.
É bom estar de volta. Vejo vocês nessa luta do jornal, conheço bem o que é fazer um jornal numa cidade. Claro que o jornal de vocês é outra natureza, mas é uma bela iniciativa. O que eu puder fazer para ajudar aqui, eu farei, estou à disposição.
Fonte: http://www.nossojornalabaete.com.br/2016/05/06/salve-o-grande-carlos-olavo/
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