O
Dr. José Cândido de Souza Vianna nasceu na cidade de Curvelo- MG, no dia 7 de
novembro de 1855, filho do Coronel Antônio Cândido de Souza Vianna e D. Maria
Cândida Vianna.
Fez
seus primeiros estudos no internato do Seminário de Diamantina, que, como o
Caraça recebia também alunos que não se destinavam à carreira sacerdotal e eram
os únicos Educandários de Minas. Posteriormente, seu pai o enviou, juntamente a
seus dois irmãos Pedro e Antônio ao Rio de Janeiro, onde ingressaram os três,
na Faculdade de Medicina, vindo nosso avô a se formar depois de defender tese,
no dia 22 de dezembro de 1882, conforme o diploma que tenho em mãos e que fará
neste ano de 1982, o seu centenário. Os dois irmãos que foram com ele também se
formaram em Medicina. Pedro ficou no Rio e se casou com Luiza, filha do célebre
jurista Cândido de Oliveira Conselheiro do Império. Morreu moço ainda, vítima
de uma doença que contraiu quando estudava uma certa moléstia. Antônio voltou
para Minas onde exerceu a medicina, vindo a falecer em Curvelo.
A
viagem de Minas à corte do Rio de Janeiro era muito difícil, quase toda feita à
cavalo, transpondo a Serra da Mantiqueira e os meninos iam protegidos pelos
escravos da família. Não me recordo quando foi inaugurado o “Caminho Novo” para
as Gerais que ligava Juiz de Fora ao Rio. Pedro Nava descreve muito bem a
construção desta estrada num de seus livros. Lembro-me de vovô contar que
passou por estes caminhos várias vezes. Era um sistema denominado “Postas”:
carruagens muito bem cuidadas, com dois cocheiros bem vestidos, faziam o
percurso no horário rigorosamente certo, parando de tantos em tantos
quilômetros, nas “Mudas” onde trocavam os animais por outras parelhas
descansadas e bem alimentadas nos embornais de milho (as rações são modernas).A
viagem não se atrasava e tudo era feito com muita precisão.
Os
meninos tinham no Rio um amigo de seu pai, o Barão de ......... (não recordo o nome) que lhes
fornecia a mesada e tudo de que precisavam. Naqueles tempos, formava-se
primeiro em farmácia, para só depois ingressar na Escola de Medicina. Nosso avô
destacou-se logo nos estudos médicos, chamando a atenção do grande médico e
professor Hilário de Gouvêa (nome de rua no Rio de Janeiro) casado com Rita de
Cássia, irmã de Joaquim Nabuco. Vovô foi convidado para ser seu assistente.
Aceitando, trabalhou com ele na clínica geral e de olhos.
Na grande epidemia da varíola trabalhou com tanto espírito de sacrifício que foi agraciado com a Comenda da Ordem da Rosa do Império do Brasil. Este diploma está com Oswaldo, num quadro, em lugar de destaque no seu apartamento em Ipanema-Rio, com a assinatura da Princesa Imperial Regente. Na sua formatura, seu mestre Hilário de Gouvêa o presenteou com o anel de grau ( que foi roubado) e D. Rita, com um lindo alfinete de gravata que hoje pertence ao mano Edgardo, presente do vovô ao seu primeiro neto médico.
Seu
pai, o Coronel Cândido, também foi condecorado com esta comenda, por ter
mandado muitos de seus escravos e um filho ( Janjão) para a Guerra do
Paraguai.Ao voltarem os escravos eram livres.
Voltou
para Minas, exerceu a Medicina em todo
oeste do estado, atendendo chamados a qualquer hora do dia e da noite.
Mantinha dois pajens arrieiros para viajar com ele e cuidar dos animais. Eram
sempre portugueses, muito fiéis. Nunca quis trabalho escravo para si e os seus.
participou, quando estudante no Rio, da campanha abolicionista e foi
contemporâneo de Castro Alves e o viu improvisar uma poesia linda, numa mesa de
bar, a pedido dos estudantes e outra vez, num teatro para reunir fundos para a
campanha.
Quando
já estava clinicando em Minas, passou por Abaeté
e hospedando-se em casa do Coronel Teófilo Ezequiel de Oliveira Campos,
bisneto de D. Joaquina de Pompéu, enamorou-se de sua filha mais velha, Faustina
Cândida que estava regressando de seus estudos no Colégio de Macaúbas em Santa
Luzia, o único educandário para meninas em Minas, naquele tempo. Casou-se com
ela e estabeleceram residência em Pitangui onde nasceu sua primeira filha –
Alda, em janeiro de 1888.
O vigário, Pedro Américo, pôs-lhe à
disposição sua chácara nos arredores da cidade, um pouco distante do centro.
Vovó, acostumada com as escravas de sua casa em Abaeté, sentia falta delas para
os serviços da chácara e da cozinha. Precisava de um rapaz para as compras na
cidade. Vovô não queria escravos e empregados de aluguel eram raros. Sabendo da
dificuldade que a filha enfrentava, o nosso bisavô (tenente Ezequiel) mandou de
Abaeté um escravo novo, jeitoso, bem educado chamado Gaspar que não tardou a
dar trabalhos ao delegado que não queria desagradar o Doutor. É que o Gaspar
não ficava à noite na chácara. Fugia para a cidade, bebia nos botecos e ,
valentão, bonitão, corpulento nos seus bem criados dezesseis anos, brigava e
desafiava todo mundo, acabando as noitadas na cadeia. Vovó sabia mas não
contava as tropelias do escravo ao vovô, preferindo ela mesma cair às contas
com ele. Mas,um dia o delegado apresentou as contas de carceragem ao Doutor.
Vovô pagou e ficou feliz, foi uma boa desculpa para mandá-lo de volta à casa de
seu sogro.
Elegeu-se deputado Geral ao tempo da Monarquia, derrotando em Minas o candidato contrário- Felício dos Santos- em 1890. Deslocando-se para o Rio de Janeiro, afim de tomar posse do cargo, soube em Barra do Pirahi, da Proclamação da República. Resolveu acabar de chegar para ver as coisas. O Rio de Janeiro era uma festa sem fim, contava vovô.
Pitangui ofereceu uma festa extraordinária ao vovô pela eleição dele, no sobrado que pertenceu a Joaquina de Pompéu, hoje ocupado pela Prefeitura Municipal. Vovó me contou que foi a cunhada de Rui Barbosa, esposa do Juiz de Direito de Pitangui, quem a penteou para o baile. Tenho o retrato.
Vovô
não se deu com o clima de Pitangui, muito frio e úmido. Apanhou reumatismo e se
mudou logo para Dores onde ficou pouco tempo, indo para Curvelo onde clinicou
vários anos.
Faleceu em Abaeté em 1943 aos 87 anos de idade, lúcido até o final.
Quando mamãe nasceu (D. Alda Viana), vovó que só tinha 17 anos, ficou muito doente e a avó de mamãe, D. Faustina que estava em Pitangui para assistir ao parto da filha, levou a netinha para Abaeté e a criou até os cinco anos. Os nossos avós não tiveram coragem de mandar buscar a menina que era adorada pelos avós. Por isso vovô resolveu mudar-se para Abaeté em 1892. Elegeu-se Presidente da Câmara Municipal (hoje prefeito) e posteriormente Senador ao Senado Mineiro. Em Abaeté nasceu mais dois filhos: Oscar e José ( Juca).
(...)
Espírito culto, adiantado para a época, levou oleiros italianos para Abaeté, onde ninguém conhecia tijolos. As casas eram todas de adobe. A primeira casa de tijolos foi a da fazenda dele, depois a Igreja, Cemitério,etc. Instalou moinhos de vento para abastecimento de água na cidade, construiu o Fórum e a Cadeia Pública, mandou o engenheiro Palmério traçar a planta da cidade. levou professores de fora para lá e criou uma escola mais adiantada que ensinava até línguas, chamada “Esternato” e mandou vir de Pitangui um excelente professor – Nhonhô Macedo.
Médico admirável, devotado à profissão, espirituoso por natureza, mordaz nas críticas, caridoso e desprendido sabia curar doenças graves, infecciosas, naqueles tempos que não conheciam os antibióticos. Fazia clínica geral, era também oculista e operava olhos e garganta. Vovó dizia dele: Vianna tem coração de ouro- perdoa depressa e sempre.
(retirado do texto original escrito pelo neto do senador- Dr. Aloysio da Cunha Pereira)
Nenhum comentário:
Postar um comentário