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sábado, 31 de janeiro de 2015

MAMÃE FAZ ANIVERSÁRIO!!!



Um pouco de mamãe    

 Maria Alexandrina Arruda das Mercês, Maria das Mercês, Nini... companheira inseparável do meu pai durante 55 anos, esposa dedicada, mãe zelosa, avó compreensiva e amorosa.

    Neta do Nego Arruda e do Juca do capão, nasceu na fazenda Bom Jardim, numa casa simples e bem pequena. Próximo, bem próximo da casa passava um córrego de águas límpidas e cujo fundo era calçado de pedras bem feitas. Na beira desse córrego mamãe e suas irmãs lavavam a roupa embaladas pela nostalgia e beleza do lugar.

     Fogão a lenha, muita simplicidade e até pouca escola já que ela e toda a irmandade conheceram as primeiras e únicas letras através de professores contratados para ensinar a leitura que lhe coube nessa vida. Mamãe entrou em uma escola de verdade pela primeira vez para nos matricular e sempre teve orgulho da sua vida nunca reclamou do pouco conhecimento que recebeu.

    Sua infância foi vivida na fazenda Bom Jardim, com pequenos e raros passeios que geralmente eram feitos em carro de bois e não ultrapassavam a fazenda do tio Ouvídio e da tia Catirina , que ficava no município da Abadia, hoje Martinho Campos.

    Desde cedo aprendeu a cozinhar, lavar a roupa, cuidar da casa e ser carinhosa e companheira dos mais velhos. Quando mocinha veio para a cidade aprender o corte e costura com a Carmita e aí pode desfrutar das coisas boas da vida urbana que tinha circo, cinema, amigas...

    Todo ano vovó rezava o terço de Santo Antônio. Ia gente da cidade e de toda a redondeza principalmente porque depois tinha pagode dos bons com muita dança, sanfona e viola afinada e ainda havia uma chance grande de encontrar a alma gêmea.

     Tinha muito foguete e vovô escolhia o pau maior que encontrava na fazenda para levantar o mastro com a imagem do santo toda enfeitada. A fogueira feita com toras bem grossas clareava em volta de toda a casa e ainda esquentava as frias noites do mês de junho.

     Para o terço era feita muitas guloseimas como biscoito, bolo e pão que era servido com café, leite adoçado e até licor. Mas também havia muita cachaça que era saboreada com gosto.

     O curral ficava cheio de cavalos e até mesmo carros de bois pois esses eram os meios de transporte para a estrada que levava até a fazenda. Mas, algumas pessoas iam a pé, apreciando a lua ou até brigando com a escuridão e os tropeços que aconteciam na volta para casa.

     Vovó fazia muitas promessas e por isso lá foi realizadas muitas festas religiosas como festa de Nossa Senhora do Rosário e Folia de Reis além dos terços. E todas regadas a muita comida gostosa e dança.

     Já dizia o sábio poeta: “eu era feliz e não sabia” e havia mesmo muita felicidade apesar do pouco conforto, da cama rústica com seu colchão de capim ou palha ragada e que muitas vezes dormia mais pessoas que cabiam nela... dos presentes que nunca ganharam, dos passeios que pouco aconteceram.

     A casa toda tinha apenas quatro cômodos, sendo uma cozinha com dispensa, uma sala grande e o quarto para abrigar o casal, os seis filhos e as visitas que recebiam com frequência. Só bem mais tarde construíram mais dois quartos e que hoje ficaram apenas na lembrança.

     Mamãe aprendeu a nadar ainda bem pequena e ainda mocinha aprendeu a dançar. Mas o que ela aprendeu mesmo foi a fazer comida gostosa, quitandas, um bom polvilho, rapadura, farinha de mandioca...

     Aos domingos não tinha missa na matriz mas tinha muita visita que acabava sempre num animado truco. Mas também haviam as idas até a casa do bisa Nego Arruda que ficava bem perto. Além de patriarca ele era curandeiro famoso na região ministrando purgantes que minha mãe ainda sente o gosto até hoje, realizava sangrias e curava muita gente na redondeza.

     As roupas eram feitas pela tia Mariazinha que confeccionava lindos vestidos de chita ou de riscados cujo tecidos eram comprados na casa Andrade, do Sô Manuelzinho e no Valdir Morato. Ou mesmo no Ângelo Defeo e Casa Moura.

    Tia Mariazinha foi acometida de paralisia infantil e passou a vida toda carregada pelas muletas mas isso não a impediu de costurar, mexer a tacha de cobre torrando farinha de mandioca, fazendo crochê. Gostava muito de batom de cor arregalada, rosto coberto de pó de arroz e prever o futuro principalmente dos parentes e amigos.

     Que saudades daquela terra que abrigou tanta gente querida e cujo chão eu pisei quando criança!!! Ainda lembro com saudades da casa sempre limpa, da laranjeira que tinha as laranjas mais gostosas que já vi nesse mundo, da paisagem que ainda guardo na lembrança.
    
    Ai que saudades eu tenho do ar puro do Bom Jardim, dos anos que não mais podem voltar...

   Ai que saudades da terra de toá, do cheiro bom do lugar, das águas frias que corriam mansamente pelos córregos, dos dias difíceis que mamãe enfrentava com tanta elegância.

   Lugar bonito demais, mas também não importa, o que vale é que mamãe nasceu aí. Andou pelos caminhos distantes , conheceu os atalhos e sempre que está saudosa conta histórias do lugar em que nasceu, da mãe que partiu cedo deixando órfãos seis frutos do seu ventre abençoado por Deus.

        Ah! Recordar é viver pode acreditar, faz bem para a alma dos apaixonados pela vida, dos amantes da poesia, das pessoas simples que sabem transformar a parede de barro e o chão batido na mais bela obra da arquitetura.

       Só uma coisa não tem escapatória temos que ser felizes custe o que custar, cumprir a nossa missão com um largo sorriso estampado no rosto apesar de todos os espinhos que naturalmente surgem pelo nosso caminho.

         Viva mamãe!

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